Nas minhas deambulações pelas
notícias, entre recortes de mais crianças mortas/torturadas/em sofrimento na
Síria, mais notícias sobre despedimentos, crise, estúpidas decisões que o
governo do meu país toma, mais tragédias no mundo, desgraças de quem não tem
culpa de ter nascido no país errado, notícias de fome e de
miséria, de atrocidades, mais noticias sobre o governo do meu país e, por este
momento, já estou farta.
Chove lá fora,
está frio, não há sol.
Hoje não estou
com a armadura psicológica necessária para mais tristezas, desgraças e ainda
para mais já estou farta deste dia ( e são ainda 11 da manhã).
Deparo com o
título de uma notícia que me desperta curiosidade e abro a página:
"Indonésio
tira um doutoramento aos 91 anos"
Leio a
notícia.
Hermain Tjikang demorou 5 anos a completar o curso
(fantástico), teve que rever a tese 7 vezes, e teve um ataque cardíaco quando
pensou que tinha perdido todos os ficheiros da sua tese de doutoramento.
Quando questionado sobre como tinha sido o seu percurso, ele limitou-se
a responder que não consegue parar de estudar.
Penso na capacidade que algumas pessoas têm em não desistir: de
si, dos outros, dos seus sonhos...
Perdemos tanto tempo a fazer queixas de tudo, dos outros, das situações,
das condicionantes, do tempo, do dinheiro, da falta dele, da falta de
tempo, ficamos amargos quando alguém nos responde mal, quando não temos aquilo
que queremos, quando ficamos presos no trânsito, quando chove sem parar, quando
está vento, quando está frio... que existem pessoas que nasceram virados para a
lua, que uns são filhos e outros enteados, que ninguém nos dá oportunidade, que
que que que que......
Penso sobre aquilo que tenho feito para ser feliz.
Porque ser feliz sempre foi o meu objetivo.
Quis ser veterinária, atriz de teatro.
Mas sempre decidi que ia ser feliz quando não fui veterinária nem atriz.
Perdi-me algumas vezes no caminho, escolhas erradas que me desviaram do
que queria ser.
Nada de grave.
Voltei sempre atrás, pedi desculpa quando devia ter pedido, porque soube
que o tinha de fazer, percebi onde estava e onde queria ir e fui.
E uma vez que se decide a ir, vai-se.
Com medo, na maior parte das vezes, mas vai-se.
Com isto não se quer dizer que não se volte a ter medo, a cometer
asneiras, a ter frustrações... mas a verdade é que alguma coisa muda em nós.
Sabemos quem somos, e isso ninguém consegue já tirar.
Fazer o caminho necessário para cumprir os nossos sonhos não é fácil,
tropeça-se muitas vezes nas nossas próprias inseguranças e tantas vezes no
ceticismo dos outros...
Mas a gente chega lá.
Não deixem que ninguém vos diga o contrário.
Não é esperar que alguém veja, que alguém repare, que alguém se
preocupe.
é fazer, é ir, é ser-se o trapézio e rede de segurança.
É ser-se. Em todo o complexo linguístico.
Ser-se o melhor que se puder ser, porque
limites do ser não há... Nós temos até um certo limite, nós conseguimos até um
certo limite (excetuando condições físicas, o nosso limite do que conseguimos é
muitas vezes diretamente proporcional à tenacidade do que se quer ter e fazer),
mas no ser-se, somos o que quisermos, o melhor, o médio ou o pior.
Somos amáveis e amados se fizermos por Ser.
Somos inesquecíveis e recordados por e com amor se o fizermos por Ser.
Ser-se bom, excelente, ser-se capaz de perdoar e pedir perdão, dizer
"gosto de ti" sempre que tenhamos essa oportunidade, ser-se
inconformado e não olhar para as condicionantes como barreiras intransponíveis,
olhar para a vida como uma oportunidade de ser (não só de ter, de parecer, de
querer)...
Não sei o que a vida me reserva, mas sei o que eu tenho para oferecer à
vida: eu.
O que eu Sou. O que Sou para mim mesma e para os outros, os que fazem da
minha vida um lugar fantástico para se viver.
Pessoas como Hermain dizem-nos isto: ser é quando se quiser
ser, não há idade para isto.
A tenacidade de ser-se acaba com o último suspiro,
e que nessa altura o que fique seja “apenas” isso, ser-se recordado como alguém
que foi.
de Lisboa, com amor
*A Lisboeta*
Sem comentários:
Enviar um comentário