segunda-feira, 31 de março de 2014

Wim Mertens : o concerto

Ontem foi um dia em grande, almoçarada, um docinho fantástico e para rematar, um concerto à noitinha no CCB.
Sortuda.






Surpresa do meu queridão, fomos ver o concerto de Wim Mertens, acompanhado pelo seu violoncelista belga Lode Vercampt e também por um fantástico clarinetista (que para além de treinar horas, deve passar as outras restantes a encher balões, porque o homem tem folêgo para dar e vender).

Claro que a audiência brindou-nos com o atraso do costume. O concerto estava marcado para as 21h e posso-vos dizer que eram 21h15 e lá ainda a sala se compunha, com os portugueses na sua descontração normal a fazer a malta que já está sentada há 25 minutos levantar para os queridos passarem para os lugares.
Será que vamos ter sempre esta mania (irritante) de chegarmos atrasados aos espetáculos?

Bom, adiante, sobre o Wim Mertens, ele é pianista , compositor, contra-tenor,guitarrista, musicólogo e um génio.

E como gosto de partilhar coisas bonitas com vocês, fica aqui uma das mais afamadas criações:


de Lisboa, com amor
*a Lisboeta*

Lisboa
















post de Tania Braukamper para o site http://www.fashionising.com/

Saibam como fugir do vosso ex namorado , aqui



Se há coisa desagradavelzinha é uma pessoa esbarrar com o ex.
Uma pessoa vai muito bem ao restaurante, ou ao centro comercial e toma lá, dá de caras com o dito cujo. Até aqui nada de dramático se vocês forem daquele tipo de pessoas muito cool.
Cá para mim, dispenso. Mesmo. Não que se vá iniciar um drama por causa disso, mas já tive muita vontade de dar um cafezinho com laxante, enfim, mimos. Mas estes pensamentos duraram no máximo um ou dois dias, vá, quinze no máximo… 
Na loucura um mês.

Ora, como devem existir mais pessoas que pensam como eu, os informáticos, que andam sempre de olho a ver o que a malta precisa, lembraram-se de criar uma app que avisa quando o ex ( ou a ex, que também deve andar por aí muito homem com tudo menos vontade de esbarrar com uma ex furiosa, principalmente se estiver com a mais recente ao lado) anda por perto. E melhor do que isto, não só avisa que o ex anda por perto, como sugere uma rota de fuga para não darem de cara com ele.
Não sei muito bem como funciona isto, mas estou-me a imaginar no Colombo e o telemóvel começar a apitar “ Perigo, perigo, defunto no caminho, vire à esquerda depois da Worten e siga em frente”.
A app chama-se Split, está disponível para Android  e iOS, funciona ligado ao Facebook, Foursquare, Twitter e Instagram, e avisa quando o ex vai a algum evento a que vocês também vão.
Podem ler mais aqui

Parece-me bem. Se ex fosse bom, Deus não tinha mandado amar o próximo não é verdade?

De Lisboa, com amor

*a Lisboeta*

Fui bem enganadinha...

Ah e tal a Primavera chegou e com ela os dias mais quentinhos, soalheiros e mais compridos...

A sério?? Onde?

domingo, 30 de março de 2014

Gastronomias

Dia cinzento, com mazelas do jantar de ontem à noite, foi com um enorme custo que me levantei da cama hoje. 
O meu mais que tudo, com uma energia que passados 5 anos ainda não sei onde a vai buscar, acabadinho de chegar da corrida do Benfica onde fez aproximadamente 12 km, decidiu que era altura de tentar (outra vez) ir ao Prego da Peixaria. Convidámos os nossos parceiros de crimes gastronómicos, um casal nosso amigo,  que adora experimentar coisinhas diferentes.
Uma vez chegados, foi fácil perceber que tinha sido ideia comum: estava apinhado.
Aguardámos cerca de 20 minutos ( o Prego da Peixaria não aceita reservas) até sermos encaminhados para a nossa mesa.
A decoração é tosca, no sentido cool da palavra: mesas e cadeiras em ferro, os menus colocados em pucaros de inox ( sim aqueles em que as nossas mães aqueciam o leitinho) e servem como talão de pedido,  onde assinalam o que querem comer, beber, e se querem o Prego bem, médio ou mal passado; os molhos estão em frascos de compota, os sumos são servidos em frasquinhos de vidro; o uniforme do staff ( todos eles jovens, e sempre atarefados)  é simples,  com aspeto limpo e tem (como não podia deixar de ser) um detalhe original: os nomes dos pregos estampados nas T-shirts.
E chega o momento de provar o dito. Os nossos amigos não se aventuraram muito e optaram por 2 pregos do lombo,  o Dandi (carne do lombo,  queijo da Ilha, alho porro) e o Yuppie ( carne do lombo, maionese de manjericão, queijo cheddar e pancetta em bolo do caco). Nós escolhemos um Yuppie e um Burguer de salmão e choco, para dividirmos. Começámos pelo menos " ortodoxo", o burguer de salmão e só vos posso dizer que é MARAVILHOSO! Adorámos!  O Yuppie também era ótimo, mas a estrela foi mesmo o burguer de salmão.
Acompanhamento, batatinha frita e chips de batata doce.

Com uma bebida e sem café ou sobremesa ( ainda fiquei tentada em experimentar as queijadas de cerveja que vêm com um copinho de cerveja a acompanhar, mas já tínhamos outros planos)  a brincadeira ficou por 12 euros por pessoa, que tendo em conta o elemento diferenciador do restaurante, a procura imensa e a qualidade, acho um preço simpático.
Ora bem, no tempo que estivemos à espera, demos umas voltinhas e mesmo ao lado deparámos com uma montra com uns bolinhos, macarrons e outros doces, com um aspeto fantástico. 
O sítio chama-se Poison d'Amour e é giro giro giro, um típico salão de chá com uma decoração simples e elegante, e com um páteo amoroso.

Depois de um almoço tão bom, a sobremesa não podia ter corrido melhor. 
Após 45 minutos a decidir qual o bolo que iríamos comer, porque tudo tem um aspeto de babar, optámos pelo " Louis XIV, com chocolate e frutos vermelhos.
Perfeito.

E pumba, não é neste verão que vou usar um crop top ( e por este andar nem mesmo um top, só uma burcazinha).
Fotos dos estragos aqui em baixo.

Prego da Peixaria




Poison d'Amour





de Lisboa, com amor
*a Lisboeta*

sexta-feira, 28 de março de 2014

Guia de estilo: os must have da temporada #2#

Para este segundo post, escolhi outra mega tendência para este verão, o......................................


Crop Top



O Crop top é basicamente um top, blusa, t-shirt, cortada de forma a mostrar o abdómen ( ou o pneuzinho amigo, como carinhosamente eu apelidei).

O crop top tornou-se num fenómeno durante os anos 80, graças ao clip da Madonna "Lucky Star"


e também devido ao imenso sucesso do filme Flashdance.

Nos anos 90, tivemos a Britney Spears, as Spice Girls, Christina Aguillera, All Saints a dar continuidade a esta moda.

E eis que ele volta em todo o seu esplendor, para mostrar às mulheres deste mundo o porque de fechar a boquinha e fazer abdominais até arranjar uma  hérnia...


Ficam aqui os modelitos para as mais arrojadas, em forma, ou as que se estão nas tintas para o que os outros pensam:


Forever 21








Zara 





Mango




Bershka






Looks de inspiração:












Regras para usar (bem) o Crop Top:

  1. Escolher o comprimento certo:  se estiverem preocupadas em exibir uma barriguinha menos perfeita, optem por um comprimento que esteja acima da cintura, mostrando um pouco de pele. Se estiverem mais confortáveis com esta tendência, selecionem uma peça que bate logo acima do umbigo.
  2. Não exponham demasiado: lá diz o ditado "tudo o que é demais...". Optem por uma peça (calças, saia) que não seja demasiado curta, para equilibrar e manter o look elegante.
  3. Balanço: qualquer tendência que mostre a pele tem de ser bem equilibrada. Uma saia maxi é sempre uma excelente aposta.
  4. Confiança: desde que se sintam confortáveis com a roupa, mantenham a cabeça erguida.
  5. Personalizar: nos acessórios, nos pequenos detalhes, para darem o vosso cunho pessoal e não usar uma tendência só porque esta está na moda, mas sim afirmando que gostam dela e usam à vossa maneira.


de Lisboa, com amor
*a Lisboeta*

quinta-feira, 27 de março de 2014

(Des)Atualidades

No dia mundial do teatro, essa arte tão bonita, e que tanto me diz, deixo-vos com um grande ator, para mim, um dos atores mais queridos e fantásticos, que personifica tão bem o que o teatro é.

Um manifesto proclamado há tantos anos, e que, infelizmente, se mantém tão atual.
O génio, Mário Viegas

http://m.youtube.com/watch?v=vpRJapo5xJI



Good Morning


quarta-feira, 26 de março de 2014

A menina que não comia tostas mistas


Pego na minha caixa de recordações, aquela em que guardo fotos, bilhetes, papeis, postais, cartões de aniversário, todas aquelas pequenas coisas das quais não quero abrir mão, não consigo deitar fora, das quais não me quero esquecer, que me recordam o que fui, o que por tempos quis ser, quem gostou de mim e me quis bem, quem esteve comigo nos dias mais importantes, quem não aparece na fotografia tirada naquele dia especial, não por ter estado atrás da câmara, mas por ter escolhido estar ao lado de outro alguém.
Porque saber quem não esteve é tão importante como saber quem sempre o fez.
Continuo, em minutos de puro deleite, a viver estes momentos bonitos, a percorrer cada gargalhada, cada festa, cada palhaçada, em devaneio, em espiral contra o tempo.
Fico feliz por ter estes pedaços de papel, estes pedaços de mim, dos outros, de ti.

E é no meio desta euforia que me deparo com uma carta tua.
Ainda dobrada em 3, quase imaculada, eu antecipo as palavras, e leio-as antes de abrir o papel que, já o sei de cor,  "Catherine...".

De imediato começo a cantar para (tão) dentro de mim:

"Bateram, fui abrir, era a saudade
Que vinha para falar a teu respeito
Entrou com um sorriso de maldade
Depois sentou-se à beira do meu leito
E quis que lhe contasse só metade
Das dores que trago dentro do meu peito"

Estou sentada no sofá da casa dos teus pais, e entretanto chega a tua irmã e nós vamos para o vosso quarto.
Sento-me na tua cama e tu na cadeira junto à secretária, perto da janela.
Falámos durante tanto tempo que quando voltámos a olhar pela janela tinha já entardecido.
Dás um salto da cadeira e dizes que vais preparar-me o lanche.
Sei que vais fazer uma tosta mista, porque é o que sempre fazes.
Sento-me na cadeira da cozinha, junto ao frigorífico, tu colocas a tosta à minha frente e, como sempre, pergunto-te se não vais fazer uma para ti.
Sim, já sei que não vais.
Tosta mista engorda, incha a barriga e tu não podes, porque fazes ballet, e no ballet as meninas são mais pequenas e magras do que tu, e começaram mais cedo do que começaste.

Tento dizer-te que tens de parar de estar sempre tão preocupada em seres a melhor aluna, a melhor no ballet, a melhor no teatro, que isso faz-te mal e que és perfeita.
És tão bonita, e tudo o que queria era ser igual a ti, assim, sem tirar nem por.

Saio destas memórias em escaras.

Recordo-me da tua gargalhada viciante, do brilho húmido do teu olhar, aquele brilho que algumas pessoas têm nos olhos, como se estivessem permanentemente emocionadas com a vida.

Vem me à memória como gostavas de ter nascido com o cabelo encaracolado "como uma princesa", e parece que te estou a ver a encaracolar o cabelo junto ao espelho da tua casa de banho, e de que como nesse dia queimaste a testa porque encostaste o ferro de enrolar demasiado junto.

E por esta altura já dói.
Já sinto as lágrimas a teimar em cair, um nó no estômago, e a saudade.

"Não mandes mais esta saudade
Ouve os meus ais por caridade
(...)
Amor podes mandar se for sincero
Saudades isso não
Eu não as quero"

Vi-te no outro dia numa loja.
Quase certa que nos "olhámos", estavas distraída.
Ou pareceste distraída.
Penso que me viste.
Será que não me quiseste falar?

Gelo, por momento.


Será que não me (re)conheceste?

Continuo o meu caminho, olho de soslaio mais uma vez para a tua silhueta, e aí vejo que estás grávida.
Fico tão feliz que estática, corro para ti e abraço-te, encho-te de beijinhos a ti, a minha melhor amiga, e encho, em sonhos, acordada, a tua casa de flores e roupas lindas e peluches ...
Se for menina vou-te oferecer 1001 roupas cor de rosa (a tua cor preferida) e ela vai ter um tutu, em homenagem à mãe que tanto gosta de dançar.
Se for rapaz vai ter os brinquedos mais fantásticos deste planeta, e vai ter uma bola assinada pelo Cristiano Ronaldo só para ele.
Vamos juntas à tua primeira ecografia e choramos juntas de alegrias enquanto ouvimos o médico dizer: "é um menino!" e tu exclamas que se irá chamar António.
Vou estar no batismo dele, e na festa e aniversário do 1º ano ao 18º.
E um dia estaremos num banco de um qualquer jardim, talvez aquele no Jardim Zoológico que tanto gostávamos, a falar sobre a vida, tão cheia, que passou.
E os meus filhos foram os teus, os teus os meus, e falamos sobre os primeiros passos dos nossos netos.



Na realidade, a confirmação da tua gravidez chega-me pelo facebook... numa publicação de alguém.
Em baixo existe uma opção " Gosto".

Não, quero o outro botão, aquele que me permite voltar atrás e fazer-me continuar na tua vida e tu na minha.
Aquele que proíbe anos de ausências, que me traz todos os momentos que não vivemos, de volta.

Sinto-me angustiada e triste e aquilo que sinto é dor visceral, e ao escrever-te isto choro, embalada por esta palavra tão nossa, que define tão bem aquilo que sinto: Saudade.

Tanta, do que fomos, mas tanto mais do que aquilo que sonhei que seríamos: amigas para todo o sempre.
Peço à saudade que me deixe ir, que me largue de vez porque isto não me faz bem.

Passo todos os dias à frente daquela que era a tua casa.
Olho para a janela daquele que era o teu quarto.

Nem sei onde moras.




                                                                                                                   



Bimbalhices e birrices



Kanye West declara guerra à Louis Vuitton


lê-se na Activa :"

O cantor incitou os fãs a boicotarem a marca até ao final de janeiro, tudo porque Yves Carcelle, da Louis Vuitton, recusou encontrar-se com Kanye quando este esteve em Paris.

Declaração do piqueno "Agora faço o apelo a toda a gente na cidade de Nova Iorque para que não comprem nada da Louis Vuitton até ao final de janeiro. Talvez agora já podemos encontrar-nos? Influência. Eles pensam que eu não sei reconhecer o meu poder"


Tadinho, tanto dinheiro e tão pouca educação, bom senso, classe, enfim, é como se diz...o dinheiro não compra certas coisas.

Bebezão.

15 lições de estilo que aprendemos com... o Sexo e a Cidade


  1. A mala certa pode fazer o look...
"“Balls are to men, what purses are to women. It’s just a little bag, but we’d feel naked in public without it.” – Carrie Bradshaw"





terça-feira, 25 de março de 2014

CARTA ÀS MÃES MAIS QUE PERFEITAS

Gostei muito deste texto.
Não sendo mãe, revi um pouco todas as mamãs que conheço.


Querida Mãe:
Eu já te vi por aí.
Eu vi-te a gritar com os teus filhos em público, vi-te a ignorá-los no parque, vi-te a levá-los à escola antes de teres tomado banho, e de calças de pijama por baixo do casaco.
Eu vi-te a implorares aos teus filhos, vi-te a suborná-los, e a ameaça-los.
Eu vi-te a gritar feita louca com o teu marido, com a tua mãe, e com o agente de polícia no cruzamento da escola.

Eu já te vi a correr com os miúdos de um lado para o outro, a sujares-te no parque e a praguejares em voz alta depois de bateres com o joelho na esquina da cadeira.
Eu vi-te a partilhares um leite achocolatado com um maníaco de 4 anos. Vi-te a limpar o nariz dos teus filhos com os dedos e a limpa-los na parte de trás das calças de ganga. Vi-te a correr com o teu bebé de 2 anos pendurado na dobra do teu braço, para apanhares a bola que está a fugir para a estrada.


Guia de estilo: os must have da temporada #1#



Quando menos estivermos à espera, chega o Verão, cheio de coisinhas boas que nós adoramos, como andar com o pezinho (mais) ao léu, "esplanar", sair de casa sem camisolas-e-casacos-e-cachecol, festas e jantaradas, enfim, só coisas boas.

Para dar as boas vindas ao Sol, vamos percorrer algumas tendências para esta Primavera/Verão, para que nada vos falte.
Neste post falamos de....




sábado, 22 de março de 2014

Memórias do que esqueci

"Escrevo-te diariamente, pensamentos soltos de final de dia, quando o silêncio de casa me deixa pensar nos que mais amo.
Pego no telefone e ligo (te):
- "Bento XVI, boa tarde..."
- " (silêncio...) boa tarde, queria falar com a D. Lurdes, por favor."
...E aqui começa a minha aventura diária; Nunca sei quem vou encontrar do outro lado, e nos dias em que te "encontro", nunca sei se te encontro bem, mal ou assim assim. 
Nuns dias sabes-me bem, em outros nem por isso, mas a minha voz acalma-te. Dizem as enfermeiras que lhes pedes para me ligarem. Em outros dias, dizem-te elas que me ligam, para que te acalmes, e tu, longe de ti, dizes que não queres saber de mim... Que saudades de ti, Mãezoca querida.
Que saudades do "Sandra Isabel" que tanto me aterrorizou na infância, e que vive agora num canto onde guardo as memórias boas.

Que saudades do teu nome no visor do meu telemóvel que em outros tempos me fez suar as mãos, por saber que me ligavas em horas tardias em que não fechavas os olhos pela preocupação de não me saberes bem e que agora  me deixa um travo amargo na boca, por tanto o desejar ver novamente.
A realidade é que de há três anos para cá, não te tenho como sempre te tive: presente. A verdade é que durante estes três anos aconteceu tanta coisa e a maioria delas tu não sabes. Tantos desejos concretizei e tu que sempre torceste por mim e lutaste comigo não os podes "saborear" a meu lado. Tantas lágrimas chorei sem o teu ombro amigo para me amparar.
Foi em Dezembro de 2010 que a bomba estoirou nas nossas vidas; Depois de vários exames, veio o diagnóstico: Alzheimer. Nesse dia estavas distante e as palavras não te deixaram minimamente preocupada. Olhei para ti e tu estavas a olhar em volta da sala, perdida!
-" Além de Alzheimer a D. Lurdes tem esclerose múltipla e essa junção faz com que isto possa ser galopante". E foi! Rapidamente deixaste de andar e hoje tenho a certeza que naquele dia também ouviste tão bem quanto nós o diagnóstico da "nossa" doença. Estiveste 12 longos meses entregue a ti mesma. Não falavas, passavas grande parte dos dias a dormir e a outra parte de olhos fechados. Emagreceste e os teus cabelos ficaram totalmente brancos. O teu corpo criou escaras e nós começamos a fazer luto de ti... A Eugénia, tratava de ti e eu e o Paulo chorávamos-te, com lágrimas de alma. Evitava ver-te e depois revoltava-me por não o fazer, mas era tão difícil ver-te a deixares-me a cada dia...
Decidimos procurar ajuda profissional e duas auxiliares passaram a cuidar de ti.
De um momento para o outro voltaste a abrir os olhos e a falar connosco e o difícil foi explicar-te algo que nem nós percebíamos.
Querias-te levantar, mas não conseguias e isso deixava-te revoltada.
Passaste a chamar a Eugénia de Célia, São, madrinha. A tua neta Maria, minha filha, passou a ser eu e eu passei a ser a tua sobrinha. A tua casa, já não era a tua casa e pedias-me que te tirasse dali, porque querias ir para a TUA casa. Quando tentávamos explicar que estavas em casa, desviavas o olhar e não voltavas a falar do assunto, mas logo de seguida falavas de algo sem sentido. Perguntavas pelo homem que tinha estado a falar contigo sobre a fatura, pelo bebé que dormia aos teus pés, pelo teu filho "desaparecido", falavas das contas por pagar... E nós tentávamos acompanhar o teu raciocínio disperso. Depois passavas mais uns dias fechada dentro de ti. E assim passou mais um ano desta nova mãe. O ano de 2013 foi um ano glorioso para nós. A Eugénia engravidou e tu ganhaste vida. Voltaste a perguntar onde estava o Paulo: "já é tarde, e ele não aparece..."  Voltaste a chamar a Eugénia pelo nome e ficavas em casa sozinha enquanto eles iam às consultas e ficavas ansiosa para saber do bebé. Um dia pediste para te ajudar a andar! E ao fim de dois meses deste-me um priceless moment e caminhaste para mim... Foi o auge de ti em mim. És a maior, Mãezoca querida.
A Marta nasceu e com a Marta veio uma nova Lourdes. Um misto de amor de avó e ciúmes da falta de atenção da tua cuidadora principal. Instalou-se o caos nas nossas vidas. Tu reclamavas atenção, a Eugénia reclamava o sossego e descanso necessário. O Paulo tentava agradar às duas, eu acalmava e tentava aliviar a tensão; é nesta altura que, das Misericórdias de Lisboa , vem a ajuda pedida à uns meses: 6 meses de cuidados continuados em Fátima, na 1ª unidade para doentes com esta demência. Com um programa de reabilitação para que voltes andar.
Quisemos saber a tua opinião e mostramos-te os prós e os contras e avançámos com o internamento de 6 meses. E aqui estás tu, a dois meses de terminar o tratamento, ansiosa por voltares a casa e eu ansiosa por não sei quê...
Todos os fins de semana são para ti, para te visitar. Dia 12 de Maio voltas para casa, de onde talvez nunca deverias ter saído, mas foi uma decisão tua e nós aprovámos. Não sabemos o que irá acontecer nestes dois meses de internamento que te restam, mas o certo é que estás numa "fase boa". Estamos cheios de esperança nesta etapa final.
Foram 4 meses exaustivos pela instabilidade que a doença te traz. Dezembro foi fatídico. As visitas eram passadas em silêncio e tu recusaste abrir os olhos em algumas delas. Janeiro, foi um desastre, estavas revoltada e pela primeira vez, ouvi da tua boca, palavras que jamais imaginei ouvir. "- faz parte da doença..." Diziam as enfermeiras quando lhes pedia desculpa em teu nome.
Março está a ser glorioso. Estas consciente e queres fazer ginástica. Queres voltar a andar. E nós estamos a torcer por ti. 
Bem sei que a culpa não é tua. Não és tu que escolhes como vais acordar. A mim, resta-me o consolo de que não és tu que não queres sabe das tuas memórias; são elas que não querem saber de ti. Foram elas que te abandonaram e eu sei que agora a tua luta é contigo própria.”

1) - Todos sabemos, de uma forma geral, que o alzheimer é  uma doença incurável, degenerativa, cuja principal característica é o declínio cognitivo.Como começaste a perceber que algo não “estava bem”, quais foram os primeiros sintomas que surgiram?
O diagnóstico foi feito em Dezembro de 2010, mas durante esse ano a minha mãe já mostrava sinais de esquecimento e desorientação que pensámos serem devido à idade, como grande parte dos familiares destes doentes. Mas o que nos levou a procurar ajuda foi o facto de ela se ter perdido num sítio que tão bem conhecia. O meu irmão começou por andar atrás dela e foi ele que a trouxe para casa nessas duas ocasiões.

2) - Na altura em que lhe foi diagnosticado Alzheimer, que tipo de apoios foram (ou não foram) dados?
Quando foi detetada a demência, foi-nos disponibilizado apoio psicológico, assim como apoio domiciliário. Foram-nos facultados todos os contactos da associação Alzheimer Portugal, onde eu já fiz um workshop. A medicação que a minha mãe toma para a demência não é comparticipada, mas dão-nos fraldas e resguardos, assim como a alimentação específica que nos é entregue semanalmente em refeições devidamente separadas e identificadas.

3) Como é o dia-a-dia de uma pessoa que tem a doença de Alzheimer e dos que cuidam dela?
Como deves calcular não é fácil viver e cuidar de um doente com uma doença neuro degenerativa progressiva e irreversível, com afetação da própria personalidade e da perda total de autonomia, no entanto a minha mãe tem sido uma doente relativamente "fácil". Fala-se muito das várias fases do Alzheimer e a minha mãe já passou por grande parte delas. A mais difícil, no meu ponto de vista é mesmo a que eles perdem a noção de censura e dizem tudo o que lhes passa pela cabeça.  Pelo que li, e penso que é unânime, a fase em que deixam de reconhecer os familiares é a que mais marca os entes próximos. Eu criei uma defesa, depois de perceber que mesmo nos momentos em que a minha mãe não sabe quem sou, me recebe com um sorriso e que a postura dela muda. Se está nervosa acalma-se, se está calma, fica agitada de felicidade, apenas por ver o meu rosto. 
4) Falta apoio aos doentes de Alzheimer e seus familiares em Portugal? O que tem de ser melhorado?
Disponibilizam de imediato uma equipa de psicólogos, fornecem os contactos da associação e para os doentes acamados fornecem, fraldas, resguardos e a alimentação. No meu ponto de vista somos mais acompanhados pela associação das Misericórdias de Lisboa do que propriamente pelo Centro de Alzheimer,  mas é a nossa experiência, possivelmente, terás outras famílias a dar outra opinião.

5) Como tens sido todo este processo de viver com a doença da tua mãe? Atualmente encontra-se em que fase da doença?
Se tiver que enumerar em que estado da doença ela se encontra, hoje, no dia em que te escrevo e depois de ter estado com ela no sábado, em que teve um discurso razoável, sem vocalizações, calma e que inclusive nos leu um pequeno texto, diria que está na fase 2 da doença, considerando que não anda. No entanto e pela minha experiência, as fases vão e voltam. As fases não são estanque e não há uma progressão contínua, pois se há dias em que já a vi naquilo que consideraria uma fase 4, outros são os que me esqueço que a minha mãe tem alzheimer, que é o caso destas últimas semanas.

6) Tens uma filha (linda), a Maria. Como ela encara a doença da avó?
A minha filha é uma criança surpreendente em alguns aspetos. E tem sido uma surpresa agradável a forma como ela lida com a avó. No início, como era de prever, questionou o que se passava com a avó e ao fim de eu ter explicado o que a avó tinha e o que iria acontecer, não voltou a tocar no assunto e criou uma nova maneira de lidar com a avó. Adaptou-se facilmente às alterações de estado de espirito da avó e convive bem com o facto da avó a chamar de Sandra e até mesmo nos dias maus em que a trata com indiferença e de forma brusca, fala com ela docemente e isso desarma a avó de tal maneira que a conversa termina por ali.
No entanto, não fala sobre a doença da avó, mas isso é habitual nela, pois sempre que ela tem algum assunto que a preocupa ou como neste caso, que a deixa triste, a Maria fecha-se e não fala. Mas preocupa-se comigo e com a avó. Está sempre a tentar decifrar o meu estado de espírito e nos dias menos bons, não me larga e enche-me de mimos, como se me quisesse ressarcir da falta do que possa estar a sentir. Tem sido o meu ombro amigo e uma das minhas companheiras nesta etapa.
7) A doença da tua mãe moldou a tua forma de seres mãe?
A doença da minha mãe moldou a minha forma de ser, em todo o meu Ser.
Nunca tive nada por garantido, pois bem cedo a vida se encarregou disso. Tive perdas irreparáveis nestes 34 anos de vida. Perdi um grande amigo na juventude e de seguida perdi o meu irmão, que foi quem me moldou e me transmitiu tudo aquilo em que acredito. Aos 23 anos perdi o meu querido pai. Por isso sempre fui uma pessoa muito consciente de que o que se tem hoje, amanhã poderá não se ter, dai mostrar diariamente aos que amo, o quanto os amo. A doença da minha mãe trouxe-me uma dolorosa jornada: A perda dela, muito antes dela falecer efetivamente. Trouxe-me o inverter de papéis, na relação de filiação, se é que me entendes. Neste contexto posso considerar que as constantes "perdas" com que me tenho confrontado durante este processo degenerativo da minha mãe, conduzem-me para um processo continuo de pequenos "lutos", cuja função é fazer com que me adapte à nova realidade e que crie estratégias para lidar com as situações que possam aparecer no dia-a-dia. 
8) Se pudesses escolher algo que a tua mãe não se esquecesse jamais, o que seria?
Costumo dizer que mais importante que um dia ela não me reconhecer é saber que ela sabe que este rosto é o que lhe dá amor e carinho, e eu sei que isso jamais ela irá esquecer.









A Sandra pediu-me que colocasse aqui os seus agradecimentos.

Aqui ficam:

"Gostava de deixar um agradecimento em especial ao meu marido João Martins, pelo amor, carinho, paciência e pelo companheirismo que tem comigo nesta "luta". Agradecer às minhas amigas que me ouvem e acolhem, em especial à Cátia que me acompanha em algumas ocasiões ao centro em Fátima, agradecer-te também a ti pelo convite que tantas lágrimas me fez cair mas que me soube tão bem escrever. "



Sandra Nogueira, uma querida amiga e alguém que admiro e gosto muito.
Não vou dizer que o que escreveu, e mais principalmente, o modo bonito como escreveu, me tenha deixado estupefacta ou surpresa.

Sei as enormes capacidades e qualidades da Sandra. 
Mas o facto de as conhecer não quer dizer que não me emocione cada vez que sou confrontadas com as mesmas.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Amanhã

Vamos ter algo especial amanhã.


"Memórias do que esqueci"

A história da Sandra, a história da mãe da Sandra e de toda a família, e a história que passou a ser também um pouco minha.

Um artigo muito especial, de alguém que adoro e respeito, muito.


"(...) Não falavas, passavas grande parte dos dias a dormir e a outra parte de olhos fechados. Emagreceste e os teus cabelos ficaram totalmente brancos. O teu corpo criou escaras e nós começamos a fazer luto de ti... "